Édipo Rei – Exercícios e questões (paradidático)

1- Associe as personagens às suas características ou aos fatos a elas relacionados.

(A) Édipo         (B) Jocasta      (C) Tirésias
(D) Laio           (E) Poliníces    (F) Antígona

(     ) Tomou o trono de Tebas quando Édipo foi exilado da cidade.
(     ) Verdadeiro pai de Édipo. Foi assassinado pelo próprio filho numa encruzilhada.
(     ) Filha de Édipo e Jocasta, acompanhou o pai no exílio.
(     ) Era cego e tinha o poder da adivinhação. Era servo do deus Febo-Apolo.
(     ) Rainha de Tebas, era mãe e esposa de Édipo.
(     ) Decifrou o enigma da Esfinge e tornou-se rei de Tebas.


2- A história de Édipo mostra que o homem desconhece o verdadeiro sentido de suas ações.

A) O verdadeiro pai de Édipo, tentando impedir o cumprimento do oráculo, comete um ato que desencadeia uma sucessão de fatos que garantirão a concretização da profecia. Que ato foi esse? Quais as suas consequências?
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B) Ao fugir da casa de seus pais adotivos, Édipo tentou evitar o cumprimento do oráculo e acabou encontrando mais depressa seu destino. Como isso aconteceu?
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C) Laio e Édipo têm em comum o desejo de fugir ao cumprimento de uma predição de Delfos, mas algo muito importante distingue suas motivações. Aponte essa diferença.
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3- Marque a alternativa correta em relação à tragédia de Sófocles.

(A) Édipo se tornou o responsável involuntário pela morte de seus progenitores.
(B) Édipo se tornou um grande herói de Tebas, sendo perdoado por todos.
(C) Édipo foi bastante ingrato com seus pais adotivos.
(D) Édipo, mesmo perdendo a razão, consegue decifrar o enigma da Esfinge.
(E) Édipo, apesar de purgar os seus delitos, tem uma vida atribulada e confusa para sempre.


4- Ainda sobre Édipo Rei, assinale a alternativa INCORRETA.

(A) A obra pode encerrar uma moral: há que se conhecer a si mesmo para não cometer erros.
(B)  A obra narra o apogeu e a queda de Édipo.
(C) A obra pode apontar para as questões do destino humano que não pode ser mudado.
(D) A obra frisa a impunidade das ações humanas.
(E) A obra destaca a questão da culpa e da punição.


5- Nos textos de Sófocles, há uma separação entre a noção de tempo dos deuses e a dos homens, porém o tempo dos deuses presta conta do tempo dos homens. Em Édipo rei, é possível perceber como ocorre a inclusão do tempo humano no tempo divino, uma vez que no início da peça, sem que ninguém ainda saiba, tudo já aconteceu.

“Tempo dos deuses e tempo dos homens se encontram quando a verdade vem à tona. Após ter-se cegado, Édipo pode dizer: ‘Apolo, meus amigos! Sim, é Apolo que me inflige, nessa hora, essas atrozes, essas atrozes desgraças que são meu fardo, meu fardo daqui em diante. Mas nenhuma outra mão além da minha agiu, infeliz’. A oposição dessas duas categorias temporais é, em si, muito mais antiga que os trágicos, mas o palco trágico é precisamente o lugar onde os dois tempos, inicialmente disjuntos, se encontram”. (VERNANT, Jean-Pierre; NAQUET, Pierre Vidal. Mito e Tragédia na Grécia Antiga. São Paulo: Perspectiva, 1999, p. 278.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de tempo de Sófocles, é correto afirmar:

(A) A noção de tempo praticado no horizonte cultural de cada povo independe do tempo dos deuses.
(B) A compreensão do tempo na tragédia está relacionada com o desenrolar dos acontecimentos humanos que se vinculam à eternidade.
(C) A punição pelas transgressões excluía o tempo compreendido como eternidade.
(D) O tempo é suprimido das consequências advindas das ações dos personagens e das determinações do destino.
(E) A imortalidade é uma das características partilhadas por homens e deuses como decorrência do encontro entre tempo divino e humano.


6- (ENEM 2010 – Adaptada) No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos são características do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é:

(A) Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo. (Jean Paul Sartre)
(B) Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser. (Santo Agostinho)
(C) Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte. (Arthur Schopenhauer)
(D) Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo. (Michel Foucault)
(E) O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança. (Friedrich Nietzsche)


7-  A peça Édipo-Rei de Sófocles permite diversas interpretações. Talvez a mais famosa seja a de Freud, que propõe o desenrolar dramático da peça – a descoberta pelo filho de que assassinara seu pai e casara com a mãe – como a realização do desejo inconsciente comum a quase todos os homens. Como afirma Jocasta a Édipo na peça: “Não tenhas medo da cama da tua mãe: quantas vezes em sonho um homem dorme com a mãe! É bem mais fácil a vida para quem dessas coisas não cogita.” Há uma segunda leitura, provavelmente menos sutil, que resgata Édipo-Rei como uma das primeiras histórias de mistério conhecidas. Trata-se de um drama policial em que o responsável pela identificação do culpado de um assassinato descobre ser ele mesmo o assassino. (Marcos de Barros Lisboa. Um país de pobres. In: Valor, cadermo Eu&Fim de Semana, 1-3/2/2002, p. 10 (com adaptações).)

Com o auxílio do texto acima, julgue os itens que se seguem.

(       ) Tragédia e comédia eram os gêneros básicos do teatro grego, uma das grandes criações culturais da civilização helênica. Sófocles, o autor de Édipo-Rei, entre outras peças marcantes, é considerado o maior tragediógrafo grego.
(       ) O surgimento do teatro ocidental na Grécia antiga integra um contexto cultural tão amplo quanto expressivo, em que o antropocentrismo comanda as mais diversas formas de expressão cultural, daí decorrendo o desenvolvimento da Filosofia, da História e das técnicas da arquitetura e da escultura.
(      ) Citado no texto como autor da “talvez mais famosa” interpretação de Édipo-Rei, Sigmund Freud é figura central da História contemporânea: seu livro A interpretação dos Sonhos inaugura um inovador caminho de análise do ser humano, a partir da valorização do inconsciente.
(      ) O “drama policial” de que fala o texto é um gênero literário que encontrou as melhores condições para se desenvolver com as mudanças verificadas na sociedade contemporânea a partir da Revolução Industrial e a acentuada urbanização dela decorrente.


8- A Esfinge, monstro alado com corpo de leão e tronco e cabeça de mulher, aguardava os viandantes à entrada de Tebas para lhes propor algum enigma de difícil resolução, devorando aqueles que não davam a resposta correta. Quando Édipo se dirigia a Tebas, o monstro lhe fez a seguinte pergunta: “Qual é o animal que pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia dois e à tarde três?” Édipo respondeu: “É o homem, que quando criança engatinha, quando adulto anda sobre duas pernas e na velhice apoia-se em uma bengala.” Furiosa, a Esfinge atirou-se de um rochedo, livrando Tebas de sua presença.

Esse episódio faz da tragédia Édipo Rei, de Sófocles, e pode ser entendido como

(A) um exemplo de valorização do mito e do fantástico que influenciaria, no cristianismo medieval, as narrativas sobre os milagres realizados pelos santos.
(B) uma manifestação do racionalismo greco-romano que, a partir da Renascença, influenciaria as grandes vertentes do pensamento ocidental.
(C) uma criação original da literatura romana, cuja temática mitológica influenciaria fortemente a produção cultural da Grécia Clássica.
(D) um paradigma da literatura medieval, que enfatizava a bravura dos heróis de cavalaria no enfrentamento de monstros ligados às forças do Mal.
(E) uma produção grega influenciada pelo antropozoomorfismo egípcio, denotando o sincretismo presente na cultura helenística.


9- O coro e o corifeu aparecem em vários trechos da história. Explique a função deles na citação abaixo:

Deus todo-poderoso, se mereces
teu santo nome, soberano Zeus,
demonstra que em tua glória imortal
não és indiferente a tudo isso!                         1075
Desprezam os oráculos ditados
a Laio, como se nada valessem;
Apolo agora não é adorado
com o esplendor antigo em parte alguma;
a reverência aos deuses já se extingue.              1080

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10 – Segundo a mitologia grega, a Esfinge era um monstro com cabeça e seios de mulher, patas e cauda de leão e dotado de asas. Propunha enigmas aos viajantes nos arredores de Tebas e devorava aqueles que não conseguiam decifrá-los. Por isso a Esfinge representa, hoje, o enigma, o mistério das coisas. Em sua opinião, quais são os maiores enigmas enfrentados pelo mundo contemporâneo.

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11 – Aristóteles criou o conceito de catarse. Concluiu que o espetáculo trágico para realizar-se como obra de arte deveria sempre provocar a katarsis. Transcreva com suas palavras a parte do texto que provocou em você a catarse. Justifique esse termo com fragmentos da obra lida e analisada.

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12- As peripécias dentro da tragédia, correspondem ao enredo da própria história, ou seja, são as reviravoltas que a história dá até que e descubra a “falta”(culpa) ou alguma aspecto físico que venha a desvendar um outro segredo.  Como pudemos saber essas duas coisas tendo em vista o nosso herói?

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13- Leia a definição que segue e responda a questão:

Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica quais os traços característicos de um grupo humano qualquer que o diferenciam de outros grupos sob os pontos de vista social e cultural. Portanto, trata-se da identidade social de um grupo. Ethos significa o modo de ser, o caráter. Isso indica o comportamento do ser humano e originou a palavra ética.

O centro do espetáculo teatral gira em torno do destino infeliz do herói, tema comum a maior parte das narrativas e das sagas antigas. Comente sobre o nosso herói Édipo rei tendo como base o ETHOS dele.

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Estátuas dos deuses gêmeos Ártemis e Apolo descobertas em Creta

Estatuetas espetaculares de Apolo e Artemis descobertas em raro estado de conservação em Creta. Fonte: Ancient Origins

O Chania Ephorate of Antiquities apresentarou um grupo de pequenas esculturas retratando os deuses gêmeos Ártemis e Apollo, em 24 de julho deste ano, no Museu Arqueológico de Creta.

As estatuetas de valor inestimável foram encontradas na escavação sistemática em uma casa romana da antiga Aptera, sob a direção da arqueóloga Vanna Niniou-Kindeli. A escavação arqueológica é financiada pelo governo local.

A apresentação é considerada de grande importância, porque as duas estátuas são de grande qualidade artística e datam, aproximadamente, entre a segunda metade I século, ao início do século II d.C. Acredita-se que elas foram importadas de centros artísticos fora de Creta para adornar a luxuosa casa romana.

O anúncio do Ephorate afirma que “Ártemis, a deusa protetora de Aptera, é feita de cobre, enquanto seu irmão gêmeo, Apollo, é feito de mármore. A deusa está em uma elaborada base de cobre em forma de caixa e é retratada em passos largos, vestindo um chiton curto e fino, e está pronta para atirar. Embora Apolo seja retratado de maneira mais modesta, sua atitude transmite tensão interna”.

As descobertas espetaculares foram apresentadas pela primeira vez como parte da coleção permanente do Museu Arqueológico de Chania.

Na mitologia grega, Ártemis e Apolo eram filhos de Zeus e Leto. Ártemis era a deusa da caça, assim como a natureza, a castidade, a virgindade e a lua. Ela era a protetora das meninas e era adorada como uma das principais deusas do parto e da obstetrícia.

Ela escolheu permanecer uma donzela para sempre, dedicando sua vida a caçar e proteger o ambiente natural.

Apolo era o deus grego da música, dança, verdade, cura e luz. Como sua irmã gêmea Ártemis, ele também era um arqueiro. Duas tarefas vitais atribuídas a Apolo incluem o fornecimento da ciência da medicina à humanidade e a movimentação do sol pelo céu todos os dias.


Fonte: Greek Reporter

Amazonas (Ἀμάζονες)

As Amazonas constituíam uma nação só de mulheres descendentes do deus Ares, o padroeiro da carnificina das guerras, e da ninfa Harmonia, filha de Afrodite. Seu território situava-se ao norte da Europa, região fabulosa e obscura. Eram governadas por uma rainha, nenhum homem junto a elas, a não ser ma qualidade de escravos, para serviços braçais. Dizem alguns que elas matavam os filhos do sexo masculino e, periodicamente, se uniam aos forasteiros, que por seu reino aventurassem, a fim de perpetuar a raça, só poupando as meninas que nascessem dessas uniões. Quando adultas, segundo consta, elas extraíam um de seus seios, em geral o direito, para não estorvar a ação das guerreiras, ao usarem o arco ou a lança, pois eram dedicadas praticantes das artes marciais.

Durante uma das muitas guerras que as Amazonas travaram contra os heróis míticos, sua rainha Hipólita foi morta, em combate, pelo herói Héracles. Para se vingarem, elas atacaram a cidade de Atenas, para onde o herói Teseu, rei da Ática e companheiro de armas de Héracles, levara raptada a Amazona Antíope. As fogosas guerreiras acamparam numa colina – mais tarde conhecida como Areópago ou “colina de Ares” – sendo, porém, vencidas pelos Atenienses, sob o comando de Teseu. A tradição épica relata que um contingente de Amazonas participou da Guerra de Troia, lideradas pela rainha Pentesileia, aliada de Príamo, o soberano dos Troianos.

Amazonas lutando contra dois homens. Segundo Heródoto, Hipócrates e outros autores, as amazonas só poderiam se casar após matar alguns homens.

Num duelo travado entre esta última e Aquiles, o herói máximo dos Aqueus assediadores da cidadela troiana, o guerreiro matou-a, mas não escapou ao sortilégio da adversária, pois o último olhar da moribunda fê-lo apaixonar-se, irremediavelmente, e sem esperanças, pela Amazona vencida.

Quando os primeiros exploradores europeus da região amazônica chegaram às margens do rio e embrenharam-se pela floresta virgem, toparam com tribos indígenas de longas cabeleiras. Ágeis e aguerridos, com faces e corpos pintados, esgueirando-se por entre a vegetação espessa e pouco iluminada, esses silvícolas deram aos seus observadores a impressão inicial de mulheres guerreiras. Daí, segundo se conta, a denominação de Amazonas, dada ao rio mais caudaloso do mundo e à bacia hidrográfica ímpar, que ele forma com seus numerosos e importantes afluentes, na região norte do Brasil.


HORTA, G.N.B. Amazonas (Ἀμάζονες). In Calíope – Presença Clássica. Rio de Janeiro: Departamento de Letras Clássicas, Faculdade de Letras, UFRJ. Janeiro/junho 1985. Ano II, número 2.

Palas Atena (Παλλὰς Ἀθηνᾶ) – Minerva

Ela era a deusa da inteligência, a virgem rival de Afrodite, a guerreira de bravura calma e refletida, a guardiã da cidade de Atenas, pela qual velava no alto da acrópole.

É sobretudo por essa vigília que ela protegia e sua solicitude era testada pelos jovens que a veneravam durante a festa do registro dos efebos em sua fratrias (Ἀπατουρία); nela, os participantes usavam amuletos de ouro em sua honra.

Cuidadora da saúde de seu povo, ela, sem ser propriamente uma deusa agrária, favorecia a fertilidade. Pois foi ela quem criou a oliveira e, juntamente com seu venerável pai, Zeus, Atena protegia essa árvore contra as intempéries e devastações dos homens: a oliveira era, para os antigos helenos, o símbolo da paz e da prosperidade que a deusa dispensava.

Atena era também a inspiradora de diversas τέχναι, desde a arte de tecer e bordar até às artes do fogo. Sob sua inspiração, os homens construíram, por exemplo, a nave Argos, e Epeios fez o cavalo de madeira usado na guerra de Troia: lutaram e saíram vitoriosos, pois todo devoto de Atena era dito “servidor de Atena” ou “protegido de Atena”. Por seu intermédio chegava-se a vitória. Platão concedeu-lhe o nome de Θεονοή (Theonoé) – a inteligência divina – reconhecendo-a como a inspiradora das mais altas criações do espírito humano.

A terminação do nome Ἀθηνᾶ (*-ana, – ηνᾶ) parece pré-helênica; a suposição poderia ser confirmada pelo fato de que, em uma sociedade patriarcal como a dos helenos, Atena era divindade feminina guerreira. Havia, antes da chegada dos helenos à Península Balcânica, o culto de uma certa divindade feminina no Egeu, guardiã dos palácios dos reis. Em Cnossos, foi encontrado um palácio construído por volta de 1500 a.C., com uma inscrição referente a uma certa Atana potinija, o que prefigura o epíteto hesiódico πότνια Ἀθηναίη (augusta Atena).

O culto helênico de Atena estendeu-se a todas as regiões conquistadas e colonizadas pelos gregos. Foram encontrados diversos santuários a ela dedicados nas colônias gregas da Ásia Menor, na Líbia, nas ilhas do Egeu e em diversos pontos da Península Balcânica.Os mitos e os epítetos que lhe foram atribuídos ilustram o grande papel que a deusa exerceu na vida dos antigos gregos: Παλλάς (Pallás), a virgem, Ἀρεία (Areía), guerreira, Νικηφόρος (Nikefóros), vitoriosa, Σώτειρα (Sóteira), preservadora da saúde e da liberdade, Ἐργάνη (Ergáne), trabalhadora, Τριτογένεια (Tritogéneia), tritogênia, isto é, nascida no terceiro dia da cabeça de Zeus, portanto, a verdadeira filha de Zeus. Sua referência zoomórfica é a coruja.

Entre os vários mitos ligados a Atena, ressaltamos o de seu nascimento. Hesíodo conta que Atena era filha de Μῆτις (Métis), da Prudência, primeira mulher de Zeus. A conselho de Urano e de Gaia, seus pais, Zeus engoliu a própria esposa, quando estava a ponto de dar à luz. Ao tempo do parto, Zeus ordenou a Hefesto que rompesse sua cabeça com um só golpe e dela saltou Atena, inteiramente vestida e armada – com elmo, escudo, espada e couraça de pele de cabra. O lugar de seu nascimento é designado como lago Tritão e está situado na Líbia. A lança e a égide (a couraça) são seus símbolos guerreiros, atributos que lhe valeram lugar de destaque no mito da luta contra os Gigantes, γιγαντομαχία, como diz Hesíodo, e na luta do aqueus contra os troianos, como nos diz Homero. Segundo Homero, Atena foi ativa protetora de Diomedes, Ulisses e Menelau, o esposo de Helena. Na Ilíada, as troianas também a veneravam, surgem cultuando-a frente a sua estátua gigantesca que dominava o centro de uma sala.

Atena combatendo Encélado, pintura em prato grego, c. 525 a.C. Museu do Louvre

Mas, o príncipe Páris, belo troiano, negou-lhe o prêmio, na disputa com as deusas Hera e Afrodite. Diz o mito que, durante os festejos do casamento de Tétis e Peleu, pais de Aquiles, Éris (a Luta, a Discórdia) lançou um pomo de ouro entre os deuses, proclamando que ele devia ser outorgado à mais bela de todas as deusas. Páris foi nomeado por Zeus como juiz. Cada uma das três deusas defendeu o título a seu modo: Hera prometeu-lhe o poder supremo sobre os reinos da Ásia, Atena prometeu-lhe o dom eterno da sabedoria e da vitória em todos os combates; Afrodite prometeu-lhe o dom de irrestível sedução, o dom de conquistar o amor de Helena de Esparta, a mais bela das mulheres. Afrodite recebeu o prêmio e Atena, por isso, na guerra contra os troianos, tomou o lado dos helenos. Diz-se que Héracles, sabedor do fato,  ofereceu-lhe os pomos de ouros das Hispérides, em desagravo, e combateu ao lado da deusa contra os Gigantes, o que lhe valeu a gratidão da deusa.

Protetora dos Aqueus, Atena ajudou Ulisses a regressar a Ítaca, intervindo por diversas vezes em seu auxílio e de seu filho, Telêmaco, através de metamorfoses. Concedeu a Ulisses o dom de uma beleza tão irresistível que levou a princesa Nausica a interceder a seu favor na obtenção de navios para a viagem de volta. Tais ajudas a Héracles e a Ulisses representam a vitória da inteligência e da razão sobre as forças brutas irracionais.

Atena, nos mitos gregos, apesar de aparecer como protetora das artes e das letras, tem muito mais que haver com a filosofia do que com a  poesia ou a música. Como deusa da atividade inteligente, ela aparece nos Trabalhos e os Dias ao lado de Hefestos, criando, por ordem de Zeus, a primeira mulher, Pandora, enfeitando-a cuidadosamente com os presentes recebidos de cada um dos deuses olímpicos. Sua engenhosidade e espírito guerreiro, diziam helenos, levaram-na a criar a quadriga e o carro de guerra.

A grande deusa inventou a oliveira, por ocasião de uma disputa com seu tio Poseidon. Poseidon, com um golpe de tridente, criou um lago salgado na acrópole de Atenas,  e assim mostrou o seu poder. Mas Atena, tendo criado a oliveira, foi vencedora. Ofereceu sua criação à Ática, como gratidão pela vitória; daí a deusa ter sido proclamada soberana de Atenas. Em diversas cidades foi venerada como deusa protetora e o roubo de sua estátua (Palládion) do palácio de Troia, praticado por Ulisses e Diomedes, foi causa da queda definitiva de Troia.

Leitura moderna

Atena era virgem, mas teve um filho. Conta-se que ela fez uma visita à forja de Hefestos, que, abandonado por Afrodite, perdeu-se de amores por Atena. A deusa conseguiu fugir a seus assédios , mas acabou tropeçando e caindo em seus braços. Antes de desvencilhar-se , foi atingida em uma perna por uma ejaculação de Hefestos. Desgostosa, secou-se  com um pano e atirou-o sobre a Terra que, assim fertilizada, deu à luz Erictônio, que Atenas reconheceu como filho e que foi um dos primeiros reis de Atenas.

A virgem Atena era sempre representada com a lança, o elmo e a égide, seus atributos. Sob seu escudo fixava-se a cabeça da Górgona Medusa, que lhe fora ofertada por Perseu. Dessa forma, Atena também podia petrificar a todos a quem mostrasse a cabeça.

Descrita nos mitos como a deusa dos olhos verdes e luminosos, parece mais suntuosa, majestosa do que bela, mais calma, prudente e inteligente do que dominadora. Atena simbolizada pela coruja e pela oliveira.

Minerva é o nome da deusa da inteligência romana. Não parece ter pertencido às mais antigas divindades romanas, pois surgiu na Etrúria. Entretanto, integrava a tríade capitolina, ao lado de Júpiter e de Juno, nome dos deuses correspondentes a Zeus e Hera. Um de seus mais antigos templos estava situado no monte Caelius, o templo de Minerua Capta. A tradição concedia a Numa o dom de ter introduzido Minerva em Roma. Seus atributos eram análogos aos da deusa Atena, mas em Roma era principalmente a deusa protetora dos jovens estudantes, presidindo todas as atividades intelectuais. Minerva não apareceu em nenhum mito propriamente romano, apesar de estar presente nos mitos de Nério e de Ana Perena.


STARLING, Maria Adília P. de Aguiar. Palas Atena (Παλλὰς Ἀθηνᾶ) – Minerva. In Calíope – Presença Clássica. Rio de Janeiro: Departamento de Letras Clássicas, Faculdade de Letras, UFRJ. Janeiro/junho 1987. Ano IV, número 6.

Os antigos gregos nomeavam seus navios?

A resposta é sim. E com raras exceções, os navios recebiam nomes femininos.

Evidência literária

As primeiras evidências de que os gregos nomearam seus navios vêm da história da busca de Jasão pelo Velocino de Ouro, que já era conhecido por Homero (cerca de 700 a.C.). O próprio velo de ouro (uma espécie de couro de carneiro de ouro) localizava-se na Cólquida (a moderna Geórgia). Jasão reuniu heróis de toda a Grécia para obter este objeto, e para chegar ao seu destino eles fizeram uso de um navio chamado Argo (um nome masculino) em homenagem ao seu construtor, Argos (latinizado: Argus). Os heróis que navegaram no navio eram os Argonautas, do grego Argonautai; nautai significa “marinheiros”.

Não temos ideia se os mil navios que os gregos usaram na Ilíada para chegar a Troia tinham nomes. Homero não nos diz. Da mesma forma, não temos ideia se os navios de Ulisses foram nomeados, já que isso não é mencionado na Odisseia. Parece provável que, a menos que o navio fosse de alguma forma especial, como o Argo, um poeta não se preocuparia em sobrecarregar seu público com os nomes dos navios de seus heróis.

Uma das referências mais antiga a naves nomeadas é em Xenofonte, mas David Harthen destaca que o Salamínia é mencionado na peça de Aristófanes, As aves. A peça menciona não apenas a Salamínia, mas também outro navio chamado Paralos. A peça foi encenada em Atenas em 414 a.C., o que significa que essa referência é anterior a Xenofonte.

Ambos os navios eram chamados de “navios sagrados”, usados pelos atenienses principalmente como naus mensageiras ou para transportar delegações especiais para, por exemplo, Delphos. Em Hellenika de Xenofonte, os Paralos foram usados para transmitir notícias sobre a perda em Aegospotamos (405 a.C.) para Atenas (Xen. Hell. 2.1.28-29 e 2.2.3). A propósito, a Salamínia tem o nome da ilha de Salamina, onde a frota ateniense conquistou uma grande vitória sobre os persas em 480 a.C.

No sexto livro, Xenofonte menciona os Paralos e os Salamínia. A data para a segunda referência é 373 a.C. Se estes são os mesmos navios mencionados por Aristófanes, isso significa que eles serviram na frota ateniense por mais de quatro décadas. Também é possível que esses navios tenham sido substituídos em algum momento por novos que carregavam os mesmos nomes.

Inscrições áticas

De qualquer forma, a antiga evidência literária dos antigos nomes de navios gregos é um pouco escassa. Felizmente, também temos uma série de inscrições de Atenas que são conhecidas como Tabulae Curatorum Navalium. Essas inscrições datam do século IV a.C., entre 377 e 322, e atualmente estão no Museu Epigráfico de Atenas. Essas inscrições, muitas vezes fragmentadas, são inventários da frota de Atenas e de seus equipamentos e foram compiladas a cada ano. Eles dão uma visão geral dos navios e qual equipamento está faltando ou danificado para cada um deles, como escadas, mastros, lemes e velas.

No site Classic Pages, Andrew Wilson dá um breve resumo sobre o Tabulae Curatorum Navalium e fornece uma visão geral dos nomes imortalizados nas inscrições. Os nomes – todos femininos – são derivados de heroínas e deusas (como Pandora e Afrodite), lugares (incluindo Hellas e Elêusis), animais (ex: Golfinho), objetos, conceitos (ex. Liberdade, Justiça), descrições (Conquistadora, Fera) e até dois verbos. As listas preservam cerca de 300 nomes no total.

As inscrições em si também estão disponíveis online. Você pode começar no IG II² 1614 e, em seguida, usar as opções de navegação na parte superior para ir até o IG II² 1628. Mesmo que você não conheça muito de Grego Antigo, mas compreenda razoavelmente o Inglês, você poderá ver alguns nomes da lista de Andrew Wilson mesmo na primeira das páginas sobre essas inscrições, como Euetêria (“Prosperidade”), Parataxis (“Lutando ao lado”), Asklepia (filha do deus da cura, Asclépio).

Considerações finais

Claro, os gregos não estavam sozinhos em nomear seus navios. No capítulo 15 de Ships and Seamanship in the Ancient World (1995 [1971]), Lionel Casson descreve como os antigos egípcios, muito antes da ascensão de Atenas, tinham nomeado seus navios principalmente após o nome do rei (por exemplo, Ramsés II que propicia o Aton ou Merenptah Amado de Sakhmet), mas às vezes também depois de outras divindades, animais ou do próprio país.

Para os romanos, temos uma riqueza de evidências, especialmente para o Período Imperial. Eles nomearam seus navios de maneira semelhante aos atenienses, exceto que incluíam muitos nomes masculinos, como Cupido, Hércules, Áquila (“Águia”), Touro (“Touro”). A inclusão de Cupido pode parecer estranha, mas a dinastia imperial Julio-Claudiana foi descendente através de Júlio César e Eneias de sua mãe, Vênus (Afrodite).


Josho Brouwers – Um arqueólogo por formação,  tem PhD na Guerra Grega Antiga. Sua tese de doutorado foi publicada em forma de livro como Henchmen of Ares: Warriors and Warfare in Early Greece (2013).


Fonte: https://www.ancientworldmagazine.com/articles/names-ancient-greek-ships/?fbclid=IwAR0fAQOvj5jLC_asQJ1YxVkh2JUt0VV-6yYcY72Hd1K0ttiFktSihMALlKU